Festivais

 

Carnaval e suas origens pagãs

O carnaval, para surpresa de muitos, é um fenômeno social anterior a era cristã. Assim como atualmente ela é uma tradição vivenciada em vários países, na antiguidade, o carnaval também era uma prática em várias civilizações. No Egito, na Grécia e em Roma, as pessoas das diversas classes sociais se reuniam em praça pública com máscaras e enfeites para desfilarem, beberem vinho, dançarem, cantarem e se entregarem as mais diversas libertinagens.

 

O Carnaval Pagão começa quando Pisistráto oficializa o culto a Dioniso na Grécia, no século VII a.C. e termina quando a Igreja adota, oficialmente, o carnaval em 590 d.C. Será que termina?

A diferença entre o carnaval da antiguidade para o moderno é que, no primeiro, as pessoas participavam das festas mais conscientes de que estavam adorando aos deuses. O carnaval era uma prática religiosa ligada à fertilidade do solo. Era uma espécie de culto agrário em que os foliões comemoravam a boa colheita, o retorno da primavera e a benevolência dos deuses. No Egito, os rituais eram oferecidos ao deus Osíris, por ocasião do recuo das águas do rio Nilo. Na Grécia, Dionísio, deus do vinho e da loucura, era o centro de toda as homenagens, ao lado de Momo, deus da zombaria. Em Roma, várias entidades mitológicas eram adoradas a começar por Júpiter, deus da urgia, até Saturno e Baco.

A festa em louvor a Dioniso se desdobrava em quatro celebrações, em Atenas: as Dionísias Rurais, as Leneias, as Dionísias Urbanas ou Grandes Dionisias e as Antestérias, se estendendo de dezembro à março.

Estas festas que tiveram grande desenvolvimento no século VI a.C. acabaram por gerar o que se pode chamar “bagunça Dionisíaca”, por isso foram fortemente reprimidas no século V a.C., no auge do desenvolvimento artístico cultural da Grécia (governo de Péricles – 443 – 429 a.C.) quando a cidade foi embelezada por monumentos como Partenon espalhando seu brilho por todo Mediterrâneo.

O século V a.C. foi o grande período da Grécia Clássica. Entretanto a influência política e cultural somente atingiu seu esplendor no século IV quando Alexandre, o Grande, expandiu as conquistas gregas formando colônia em lugares afastados como o leste do Afeganistão e as fronteiras da Índia. É a chamada época Helenista. Nessa ocasião foi introduzida na Grécia o culto a Isis (vide deusa Isis no Egito).

Em 370 a.C., quando Atenas perde a hegemonia da arte já se pode sentir a penetração do culto a Dioniso em Roma.

As bacchantes, sacerdotisas que celebravam os mistérios do culto a Dioniso, nesse tempo mais conhecido como Baco (é com o nome de Baco que Dioniso entrou em Roma, daí alguns estudiosos afirmarem a origem italiana da palavra), ao invadirem as ruas de Roma, dançando, soltando gritos estridentes e atraindo adeptos em número crescente, causaram tais desordens e escândalos que o Senado Romano proibiu as Bacanais, em 186 a.C..

Na Roma antiga, o mais belo soldado era designado para representar o deus Momo no carnaval, ocasião em que era coroado rei. Durante os três dias da festividade, o soldado era tratado como a mais alta autoridade local, sendo o anfitrião de toda a orgia. Encerrada as comemorações, o “Rei Momo” era sacrificado no altar de Saturno. Posteriormente, passou-se a escolher o homem mais obeso da cidade, para servir de símbolo da fartura, do excesso e da extravagância.

Com a supremacia do cristianismo a partir do século IV de nossa era, várias tradições pagãs foram combatidas. No entanto, a adesão em massa de não-convertidos ao cristianismo, dificultou a repressão completa. A Igreja foi forçada a consentir com a prática de certos costumes pagãos, muitos dos quais, cristianizados para que se evitasse maiores transtornos. O carnaval acabou sendo permitido, o que serviu como “válvula de escape”, diante das exigências que eram impostas aos medievos no período da Quaresma.

Na Quaresma, todos os cristãos eram convocados a penitências e à abstinência de carne por 40 dias, da quarta-feira de cinza até as vésperas da páscoa. Para compensar esse período de suplício, a Igreja fez “vistas grossas” às três noites de carnaval. Na ocasião, os medievos aproveitavam para se esbaldar em comidas, festas, bebidas e prostituições, como na antiguidade.

Na Idade Média, o carnaval passou a ser chamado de “Festa dos Loucos”, pois o folião perdia completamente sua identidade cristã e se apegava aos costumes pagãos. Na “Festa dos Loucos”, tudo passava a ser permitido, todos os constrangimentos sociais e religiosos eram abolidos. Disfarçados com fantasias que preservavam o anonimato, os “cristãos não-convertidos” se entregavam a várias licenciosidades, que eram, geralmente, associadas à veneração aos deuses pagãos.

O carnaval na Idade Média foi objeto de estudo de um dos maiores pensadores do século XX, o marxista russo Bakhtin. Em seu livro Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento, Bakhtin observa que no carnaval medieval – “o mundo parecia ficar de cabeça para baixo”. Vivia-se uma vida ao contrário. Era um período em que a vida das pessoas tornava-se visivelmente ambígua, pois a vida oficial – religiosa, cristã, casta, disciplinada, reservada, etc. – amalgamava-se com a vida não-oficial – a pagã e libertina. O sagrado que regulamentava a vida das pessoas era profanado e as pessoas passavam a ver o mundo numa perspectiva carnavalesca, ou seja, liberada dos medos e das pressões religiosas.

Com a chegada da Idade Moderna, a “Festa dos Loucos” se espalhou pelo mundo afora, chegando ao Brasil, ao que tudo indica, no início do século XVII. Trazido pelos portugueses, o ENTRUDO – nome dado ao carnaval no Brasil – se transformaria na maior manifestação popular do mundo e por tabela, numa das maiores adorações aos deuses pagãos do planeta.

 

Festas juninas

Na Europa antiga, bem antes do descobrimento do Brasil, já aconteciam festas populares durante o solstício de verão (ápice da estação), as quais marcavam o início da colheita. Dos dias 21 a 24 de junho, diversos povos, como os celtas, bascos, egípcios e sumérios, faziam rituais de invocação da fertilidade para estimular o crescimento da vegetação, prover a fartura nas colheitas e trazer chuvas. Nelas, ofereciam-se comidas, bebidas e animais aos vários deuses em que o povo acreditava.

 

As pessoas dançavam e faziam fogueiras para espantar os maus espíritos. Por exemplo: as cerimônias realizadas em Cumberland, na Escócia e na Irlanda, na véspera de São João, consistiam em oferecer bolos ao sol, e algumas vezes em passar crianças pela fumaça de fogueiras.

As origens dessa comemoração também remontam à Antiguidade, quando se prestava culto à deusa Juno da mitologia romana. Os festejos em homenagem a essa deusa eram denominados “junônias”. Daí temos uma das procedências do atual nome “festas juninas”.

Tais celebrações coincidiam com as festas em que a Igreja Católica comemorava a data do nascimento de São João, um anunciado da vinda de Cristo. O catolicismo não conseguiu impedir sua realização. Por isso, as comemorações não foram extintas e sim adaptadas para o calendário cristão.

Como o catolicismo ganhava cada vez mais adeptos, nesses festejos acabou se homenageando também São João. É por isso que no inicio as festas eram chamadas de Joaninas e os primeiros paises a comemorá-las foram França, Itália, Espanha e Portugal.

Os jesuítas portugueses trouxeram os festejos joaninos para o Brasil. As festas de Santo Antonio e de São Pedro só começaram a ser comemoradas mais tarde, mas como também aconteciam em junho passaram a ser chamadas de festas juninas.

O curioso é que antes da chegada dos colonizadores, os índios realizavam festejos relacionados à agricultura no mesmo período. Os rituais tinham canto, dança e comida. Deve-se lembrar que a religião dos índios era o animismo politeísta (adoravam vários elementos da natureza como deuses).

As primeiras referências às festas de São João no Brasil datam de 1603 e foram registradas pelo frade Vicente do Salvador, que se referiu aos nativos que aqui estavam da seguinte forma: “os índios acudiam a todos os festejos dos portugueses com muita vontade, porque são muito amigos de novidade, como no dia de São João Batista, por causa das fogueiras e capelas”.

Festa móvel, Páscoa cristã é determinada pelo calendário lunar

A Páscoa é uma festa móvel no calendário, e cada ano é comemorada em dia diferente. Por exemplo: desde o início desta década, é a primeira vez que uma Sexta-Feira Santa cai no dia 10 de abril. Em 2001 o feriado foi dia 21 de abril, em 2002, dia 13; em 2003, em 29 de março; em 2004, 9 de abril; em 2005, 25 de março; em 2006, dia 14 de abril; em 2007, dia 6 de abril e em 2008, dia 21 de março. No ano que vem a Sexta-Feira Santa será dia 2 de abril, portanto o domingo de Páscoa, no dia 4.

Para definir o dia da Páscoa, a igreja considera o calendário lunar. Portanto, a Páscoa acontece no primeiro domingo de lua cheia após o dia 21 de março (equinócio de Outono no Sul do planeta e de Primavera no Norte). Essa decisão foi tomada no Conselho de Nicea, em 325. Isso porque não se tinha mais certeza de quando Jesus morreu, sabia-se que foi durante a comemoração da Páscoa Judaica, mas nem os judeus têm data fixa para a celebração.

 

Cabe lembrar que os cristãos emprestaram o nome do feriado – páscoa – dos judeus, que nesse dia relembram a saída do Egito e o êxodo pelo deserto durante 40 anos, até chegaram à terra prometida. Não é uma festa para comemorar, mas refletir. Come-se pães sem fermento e folhas amargas, o alimento daqueles dias de escassez.

Os cristãos, entretanto, transformaram a Páscoa na celebração da morte e ressureição triunfal de Jesus Cristo. Os símbolos da festa foram agregados ao longo dos anos, emprestados de tradições pagãs e conveniências mercantis. É o caso do ovo de chocolate, invenção novíssima se considerada a idade da religião cristã. O chocolate de popularizou após a invasão das Américas pelos europeus, no Século XVI. Antes disso, os ovos que os cristãos presenteavam eram de aves, mesmo. Pintados com símbolos religiosos.

 

 

Festivais da colheita

Os povos antigos sabiam que seu sustento vinha da terra onde viviam, que lhes fornecia alimentos e outros recursos naturais. Se as colheitas falhassem, as pessoas poderiam morrer de fome, então era muito importante garantir uma boa colheita fazendo o que fosse possível.

O ser humano sempre buscou o equilíbrio. Nós, pagãos, acreditamos que só atingimos este objetivo quando estamos em harmonia com os ciclos da Terra. É algo que procuramos dentro de nós, mas também exteriormente, pois não estamos separados do ambiente em que vivemos.

Hoje em dia, é complicada essa conexão. A grande maioria de nós vive em cidades de concreto, e o maior esforço que temos que fazer para conseguir comida é ir até o supermercado mais próximo e escolher levar frango com ou sem pele!

Os povos antigos europeus dependiam das colheitas para sobreviver. Sabiam que, se elas não fossem fartas, muitos morreriam. Assim, uma das principais formas de os celtas honrarem a terra era realizando cerimõnias em pontos específicos do ano, na mudança das estações.

De certa forma, havia uma compreensão de que, se eles não estivessem alinhados com a Natureza, não teriam como influir positivamente nas colheitas. Magia simpática. Um caminho de honra e equilíbrio era a harmonia com a terra onde viviam.

Nossos corpos mudam no decorrer do ano e só agora a ciência nos diz isso. No entanto, as bruxas já sabiam desse fato há muito tempo, tanto que o “objetivo” ritual da Roda do Ano é justamente esse: se alinhar com os ciclos da Natureza. Ao celebrar as mudanças de estações, estamos celebrando nossas próprias vidas e nossa própria realidade, como no caso dos celtas com as colheitas.

Apesar de o ser humano ter se distanciado muito da Natureza, ainda há como resgatar esse equilíbrio. Observemos os fatos. A banana, tão comum no Brasil, é uma fruta tropical. Dentre suas características nutritivas, a banana é uma fruta que resfria o corpo, aliviando a sensação de calor. É por esse motivo que a banana nasce no Brasil e não na Sibéria. É dessa mesma forma que na Irlanda temos certos alimentos que não nascem no México, por exemplo. A Natureza sabe o que faz e precisamos resgatar isso.

Cada festival do calendário céltico celebra um aspecto da terra e as mudanças de estações. Os festivais celtas do fogo, Samhaim, Imbolc, Beltane e Lughnasadh são essencialmente célticos. Cada um deles é marcado pelos solstícios e equinócios, pontos-chave do ano também.

A própria simbologia de cada sabbat céltico é extremamente relacionada ao meio das estações: Beltane é uma “mistura” de primavera com verão; Samhaim é uma mistura de outono com inverno, Imbolc é uma mistura de inverno com primavera e Lughnasadh é uma mistura de verão com outono. Basta relacionar.

Os celtas reconheciam que toda vida começa na escuridão ( a criança no ventre da mãe, a semente das plantas, filhotes em ovos), e é por esse motivo que as cerimônias começavam ao cair da noite do dia anterior ao festival. Não é por acaso que o dia começa à meia-noite.

A véspera de cada festival era um tempo de preparação física e espiritual; cada pessoa envolvida na cerimônia noturna passava o dia certificando-se de que sua energia estava tão equilibrada e harmoniosa quanto possível. Isso lhes permitiria receber maior sabedoria e poder nessas ocasiões de reverência e celebração.

Só podemos saber o que é estar em harmonia com a terra vivenciando essa união. Celebrar a Roda do Ano é se conectar à energia que move o mundo e que foi tão reverenciada pelos nossos ancestrais. Estude com atenção o simbolismo de cada sabbat e atente para as mudanças que ocorrem no seu corpo e mente em todos esses períodos.

Epulum Jovis

Epulum Jovis era o nome da festa realizada em Roma para celebrar os deuses Júpiter, Juno e Minerva, quando eram queimadas fogueiras e realizados sacrifícios.